terça-feira, 12 de maio de 2009

Dia do Enfermeiro - Greve

Interessante: Dia do Enfermeiro e Dia de greve dos Enfermeiros... O que estará mal neste filme? Muita coisa, digo eu...


Os Enfermeiros não são respeitados, valorizados e pagos como deviam. Mas se fosse só isso que está mal... O governo não nos respeita, olha para nós como apenas mais uma forma de reduzir custos. Somos o maior grupo profissional da área da saúde e como tal um pequeno "corte" no salário do início de carreira (sei lá, vou deitar um número para o ar: DUZENTOS EUROS MENSAIS) e uma pequena "dificuldade" de progressão na carreira (sei lá, mais uma vez umas coisas para o ar: IMPOSSIBILIDADE de atingir o topo da carreira, progressão com INTERVALOS SUPERIORES aos restantes grupos profissionais) representa uma poupança ENORME para os cofres do estado.

Mas pensando bem porque é que o governo nos deve respeitar?

Hoje fiz greve. Todos os elementos do meu serviço tiveram de se apresentar no serviço às 8 horas não porque não quisessem ou tentassem combinar outras formas de organizar a greve mas devido a uma aparente "indecisão" de colegas (com responsabilidades acrescidas no serviço) que diziam ainda não saber muito bem se faziam greve e acabaram por (miraculosamente) aparecer com uma folga no horário no dia da greve. Não se ficam por aqui as minhas aventuras no "mundo da greve". Muito curiosamente outro elemento do serviço (também com responsabilidades acrescidas) passou a estar de comissão de serviço... Conclusão: ter "responsabilidades acrescidas" é meio caminho andado para ser "vítima" de "milagres" desses...

Durante a greve tive de pedir (sim, pedir) à Senhora Doutora Médica que alterasse as requisições de "normais" para "urgentes" (se esse fosse o caso) pois os Enfermeiros estavam em greve. Levei com a resposta "Vocês é que estão de greve, o laboratório não... Só passamos requisições urgentes quando o laboratório está de greve porque senão eles não fazem as análises!". Eles não fazem quando estão de greve se não for em requisições de urgência!? Então e nós? Quando estamos de greve temos de colher as análises se não for em requisições urgentes!??? Que grande igualdade! Por fim lá apareceram as requisições das análises "ditas" urgentes. Para minha (não) surpresa "apareceu" uma análise que não estava pedida (deve ter passado a urgente naquela altura).

Ao longo do turno outras coisas interessantes se passaram: TACs urgentes marcados com vários dias de antecedência (um dos quais a doente teve alta sem estar disponível o resultado), Ecocardiogramas Trans-Esofágicos que eram urgentes (marcados com vários dias de antecedência, também) mas que não foram realizados (um porque o doente não foi chamado para o realizar e outro porque a doente não se encontrava em jejum - porque uma auxiliar cheia de autonomia não respeitou a placa de jejum e resolveu alimentar a doente - e era tão urgente que não se podia fazer o dito exame mais tarde nesse dia), etc.

Melhor ainda, três doentes para ter alta (precisamente) no dia que os Enfermeiros estavam de greve. Duas delas não necessitavam de cuidados específicos de Enfermagem (e por isso não coloquei nenhum entrave à sua saida do serviço embora pudesse fazê-lo) mas uma outra dependente em grau moderado nos autocuidados, com necessidade de seguimento no centro de saúde e com mais cuidados de Enfermagem interdependentes... Uma doente que esteve no serviço tempos interminaveis só porque a médica "embirrou" que a família (que não estava receptiva nem disponivel) tinha de aprender a administrar insulina, tem de ter alta (volto a dizer, precisamente) no dia de greve dos Enfermeiros?

Curiosamente, também no que diz respeito a essa doente dependente, neste dia de greve:
- os Senhores Doutores Médicos puderam remover cateteres periféricos (coisa que não fazem nos outros dias);
- a doente pode ir para casa sem retirar pulseiras identificativas colocadas no hospital;
- não foi necessário carta para o Enfermeiro do centro de saúde (e bem que a doente necessitava de Enfermeiro do centro de saúde para os tratamentos às feridas e administração de medicação subcutânea);
- não foi necessário Enfermeiro para transferir a doente para a maca da ambulância.

Enfim, o governo não nos respeita? Se fosse só esse o nosso problema...

2 comentários:

  1. Oh colega, pedir ao médico para passar as análises para urgentes? E se se recusarem simplesmente a fazer esses exames que mencionou? E se nas altas não tratar de nada (se o doente vai embora é com alta médica e por sua conta e risco sem indicações para o centro de Saúde)?
    Devemos actuar quando está em risco a vida e prestar alguns cuidados aos doentes dependentes, mais nada.
    É por isso que os enfermeiros não acreditam que as greves dão resultado. Ficam frustrados nas suas expectativas porque em dia de greve fazem tudo e estão sobrecarregados porque são em menor nº. Viram-se contra esta forma de luta e contra o sindicato que a decreta, quando esta é a melhor forma de pressão que possuimos e que sempre foi a forma de eleição dos enfermeiros para conseguirem as mudanças necessárias. Precisamos urgentemente de fazer em conjunto a discussão do que a equipa considera cuidados mínimos.

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  2. Cara colega margarida,

    Em primeiro lugar queria agradecer o seu comentário (que foi o primeiro neste meu blog).

    Gostava de salientar que eu sou grevista sempre que os motivos me parecem justos e, sim, desta vez parece-me mais justos que nunca.

    O que transpareci neste blog foi a minha frustração com o desrespeito com que tratam a nossa classe. Mesmo quando estamos a exercer um direito e tentamos que as coisas corram da melhor forma possível, há sempre alguém que tenta deitar-nos a baixo... Enfim, vou continuar a lutar como sempre... Mas que cansa, cansa...

    Mais uma vez, bem vinda colega. Apareça mais vezes. :)

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